quinta-feira, 15 de maio de 2008

E a menina, dança

“Liberdade! Liberdade! Abre asas sobre nós”, ao som de Medeiros de Albuquerque, relembro de um passado não tão distante, mas estranho, hoje a mim. Que podemos nós surpreender conosco não é novidade. Mas como esqueceu quem você foi com a passar de apenas 10 anos? Isso é mais fácil do que poderia imaginar.

Rever algumas fotos acompanhada da narração de outrem pode ser uma viagem ao desconhecido, por mais que o personagem descrito seja alguém tão intimo seu, como ninguém menos que você. O tempo pode ser o provedor de grandes mudanças. A sociedade fomentadora de pessoas civilizadas.

Não sabia como pode ser surpreendente encontrar com você 10 anos mais nova. Após 10 anos, você pode estranha-se mais do que a qualquer outro ser desconhecido. Lembrei-me daquela pequenina de cabelos esvoaçantes e enormes, allá Maria Bethânia. Sem pestanejar ao escolher o queria, com a boca vermelha, se expunha de forma tão natural, que me dá certa inveja.

No dia da formatura dos outros, lá estava ela como se a festa não fosse de mais ninguém, trajando vestido branco modelo princesinha da Idade Média, rodopiava descalça pelo salão. “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz”, seria a trilha sonora perfeita. Contrastando com as demais crianças (todas arrumadas e comedidas). O desespero das pessoas se instaurava ao ver alguém que parecia ser livre. “Calce esse sapato menina”, “Menina não se comporta assim”, diziam.

Ignorando todos os apelos, imersa na felicidade, dançava, dançava e dançava descalça. Todos os olhares se voltavam para aquela menina que com sorriso estridente, molejo e atrevimento, ousara ser diferente. Ousara fazer o que queria.

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