sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

“Ser uma imigrante brasileira tem uma conotação sexual forte”

O Brasil colabora para a construção do imaginário coletivo da mulher brasileira fácil. Muitas pessoas pensam que a liberdade permitida no sambódromo se estende à vida cotidiana As brasileiras imigrantes se proíbem de usar roupas que elas usariam normalmente no Brasil para não serem vistas com nariz torto. Conclusões de uma brasileira imigrante em Lisboa há dois anos que fez da experiência sua dissertação de mestrado em Artes Visuais e Intermédia na Universidade de Évora.

Quando procurou um antigo artesão da zona de Baixa para fabricar carimbos com palavras como “brazuca”, “prostituta” e “ilegal”, a artista plástica Letícia Barreto sabia o quanto seu trabalho causaria surpresa nas pessoas. Assim, preferiu levar um primeiro esboço do projeto com uma palavra mais “neutra”, para mostrar ao senhor qual seria a aplicação prática daquele pedido tão estranho.

A artista reproduziu a foto 5X7 do seu passaporte brasileiro em desenhos feitos com os provocativos carimbos. À primeira vista, os desenhos são iguais uns aos outros, mas, quando aproximamos o olhar, percebemos que cada um é feito de uma palavra carimbada diferente. Há um carimbo para cada estereótipo vivenciado pelas brasileiras no estrangeiro. Apesar de não chamar tanta atenção quanto uma minissaia na Uniban, seu trabalho tem feito muitos portugueses e brasileiros pensarem no assunto.

Brasil de Fato – Inicio exatamente com a mesma pergunta que você fez às suas entrevistadas para a sua tese de mestrado: o que significa ser brasileira em Portugal?

Letícia Barreto – Primeiramente, acredito que só estando longe do nosso país é que percebemos o que significa o peso da nossa nacionalidade e como os estereótipos ligados à essa nacionalidade determinam a forma como somos tratados. Imigrar implica lidar com conflitos inevitáveis entre culturas diferentes, o que inclui também enfrentar os estereótipos e preconceitos nas percepções mútuas. Ser uma mulher imigrante brasileira tem uma conotação sexual forte. Uma jornalista que eu entrevistei quase foi estuprada por um taxista português. Por ele ter percebido que ela era brasileira, pensou que podia tudo. O modo como somos vistas pelos estrangeiros fizeram-me refletir sobre como o Brasil colabora para essa imagem da mulher brasileira. E colabora muito.

Quando o príncipe Charles visitou o Rio de Janeiro, por exemplo, levaram-no para uma visita “oficial” à uma escola de samba com mulatas semi-nuas sambando à sua volta.
Claro, claro, esse é o nosso cartão postal. Li recentemente um artigo do historiador da Unesp Jean Marcel Carvalho França explicando que a imagem da brasileira sensual foi construída desde a colonização, graças aos relatos dos viajantes que visitaram a Colônia. Navegadores europeus propagavam pela Europa, em suas narrativas de viagem, a imagem da mulher sensual e fácil. Um aspecto interessante sobre esses relatos é constatar que os alvos de censura desses mesmos viajantes, embora fossem consideradas “mulheres brasileiras”, eram na verdade europeias que lá viviam, pois as “brasileiras nativas” não eram as protagonistas dessas “histórias calientes dos trópicos”. Muitos dos relatos dos viajantes apenas reproduziam o que tinham lido anteriormente em outras narrativas. Muitos mal conheciam os lugares que visitavam, nos quais tinham pouquíssimo contato com os habitantes locais. Verdadeiras ou não, o fato é que essas opiniões, divulgadas à exaustão durante séculos, ajudaram a consolidar o senso comum entre os europeus, criando um estereótipo forte que até hoje influencia a forma como as brasileiras são vistas e tratadas no exterior e influenciando até a forma como os próprios homens brasileiros passaram a tratar suas conterrâneas. Nos tempos atuais, alguns exemplos na música, literatura, telenovelas e outras manifestações da cultura brasileira ajudam a reforçar esse estereótipo.

Como é possível as telenovelas contribuírem para reforçar este estereótipo se elas apresentam ao público mulheres com variados comportamentos, pertencentes à diferentes classes econômicas, sociais e culturais?
A novela “Gabriela”, por exemplo, apresentou uma mulher com costumes extremamente livres para uma sociedade que era muito fechada. Fortaleceu este imaginário porque mostrava um modo de ser muito diferente do que era comum aqui [em Portugal]. “Gabriela” fez com que as próprias portuguesas começassem a rever os conceitos em relação ao seu próprio comportamento. E isso me foi dito por portuguesas que conheci aqui em Lisboa.

Até mesmo para a sociedade brasileira, a personagem Gabriela, de Jorge Amado, era avançada para a época em que foi exibida na TV.
Aí é que fica claro como funciona o próprio estereótipo: ele se baseia na generalização. Ninguém se dá ao trabalho de verificar se todos as pessoas também são assim. E o mais maluco de um estereótipo é que nem precisamos ter contato com uma pessoa daquela nacionalidade ou grupo social para criar um conceito a respeito dela, é suficiente ter escutado a respeito para validar o estereótipo.

Então há a imagem que se têm das brasileiras e há as brasileiras enquanto mulheres de carne, osso e sentimento. Quem são de fato as brasileiras que estão em Portugal?
Tem de tudo! Não se pode generalizar! Não existe um perfil. Esse é o ponto e isso é o que pretendo mostrar no meu trabalho: existem pessoas com histórias de vida diversas, com backgrounds diversos, vindas de classes sociais diferentes, com experiências de vida diferentes. Bem distante desse imaginário coletivo, dessa imagem que a mídia criou. Os meios portugueses associam o imigrante brasileiro ao bandido, ao desordeiro.

À prostituição...
Sim, também à prostituição. A comunidade brasileira passou a ser vista de forma mais preconceituosa depois de um assalto a um banco em Lisboa, feito por um brasileiro [que foi morto pela polícia com um tiro na cabeça]. Uma das minhas entrevistadas contou-me que, logo após esse episódio, seu filho foi hostilizado na escola por ser brasileiro.

Mas o seu trabalho de mestrado foi acolhido pelos meios. Você foi entrevistada pelas emissoras de TV portuguesa SIC, RTP e TVI. Não acha que há uma tentativa dos meios de contrabalançar as matérias de pendor negativo com outras mais positivas, sobre integração, multiculturalismo e igualdade de oportunidades?
Sim, há atualmente muitas iniciativas para se debater a aceitação do outro porque é fato que as diferenças existem na nossa sociedade e temos que aprender a conviver com ela. Se não observarmos o outro sem julgamentos, não conseguiremos viver. Todo tipo de guerra e conflito é gerado pela intolerância a tudo o que não conseguimos ou não queremos compreender. O colocar-se no lugar do outro é o grande desafio e requisito necessário a uma comunicação verdadeira. Acredito que a universalidade da arte colabora na dissolução de barreiras e nos ajuda a perceber que, no fundo, somos o reflexo do “Outro”.

Apesar do crescente interesse pelo debate, a maioria das entrevistadas não autoriza que se disponibilize a entrevista no seu site, em podcast.
Medo da exposição, do que as pessoas possam pensar delas. Mas, no geral, as entrevistadas veem de uma forma positiva o projeto, porque muitas pessoas nunca pararam para pensar nas situações que enfrentam, nem refletiram sobre o seu estado de imigrante. E o meu trabalho tem feito os próprios imigrantes a pensarem um pouco a respeito do assunto.

Acha que, para ser respeitada, a brasileira tem que ser mais comportada no estrangeiro do que seria normalmente no Brasil e emprestar mais a cara para este debate?
Acho que a brasileira não precisa deixar de ser quem é para ser respeitada, tem que se fazer respeitar por aquilo que é. Uma coisa engraçada que várias entrevistadas disseram é que se proíbem de usar roupas que elas usariam normalmente no Brasil para não serem vistas aqui com nariz torto. Deixam de usar um decote ou uma saia mais curta, por exemplo.

Enquanto as europeias fazem topless tranquilamente, no Brasil, fazer topless nas praias pode ser considerado um ato obsceno, passível de detenção de três meses a um ano. Inclusive, a estudante Geisy Arruda foi xingada na Uniban por estar usando minissaia na aula. Não acha um contra-senso as brasileiras sofrerem com o preconceito no estrangeiro e com o machismo no Brasil?

Os europeus não acreditam quando eles ficam sabendo que no Brasil não podemos fazer topless. Eles me perguntam: “E o carnaval?”. Eu respondo que o carnaval tem apenas quatro dias de folia e que aquela exposição toda do corpo acontece apenas nos desfiles e são protagonizadas por poucas mulheres.

E só mostra os seios quem desfila no sambódromo.
Conheci europeus que acham que as brasileiras andam de topless nas ruas do Brasil.

Não seria na verdade um preconceito social terceiro-mundista?
Não acho que esteja associado ao terceiro mundo porque não se tem essa mesma imagem das mexicanas, das venezuelanas... Acho que está associada à imagem que exibimos do carnaval, que é muito forte. Há muitas pessoas que pensam que a liberdade permitida no sambódromo se estende à vida cotidiana e, por isso, há esse imaginário coletivo de que no Brasil tudo é liberado o ano inteiro.

Antes de morar em Portugal você morou dois anos na Itália. Por que este trabalho surgiu apenas em Portugal?
Eu cheguei a fazer alguns trabalhos sobre isso na Itália, mas nada consistente. Mas isso de perceber a imagem que se tem das brasileiras surgiu lá, porque na Itália ninguém acreditava que eu era brasileira, por ser branca. Achavam que eu era grega ou do sul da Itália, então, eu tinha que mostrar o meu passaporte a todo momento. A sementinha deste trabalho nasceu dessa necessidade de refletir sobre o que significa ser brasileira e desse imaginário coletivo acerca da nossa nacionalidade.

De que forma os carimbos de seu trabalho artístico traduzem esse estado de ser mulher brasileira no estrangeiro?
A burocracia foi o ponto de partida deste trabalho. Para conseguir o visto, tive que reunir montes de documentos e até enfrentar fila no SUS para fazer teste de hepatite e HIV. Além disso, o fato de eu vir toda legalizada pelo Consulado não facilitou a minha vida aqui: já passei cinco horas na fila da Segurança Social sem conseguir ter minha situação resolvida. Para abrir uma conta no banco, me pediram os documentos mais estapafúrdios. Então, comecei a cansar dessa situação e eu precisava fazer alguma coisa para descarregar toda essa ansiedade, toda essa raiva. Daí, peguei a fotografia do meu passaporte e recriei esse retrato com os carimbos remetendo ao questionamento da burocracia para a legalização e também para a percepção do “outro”, do “estrangeiro” em geral. Mais tarde, percebi que poderia levar essa ideia inicial muito mais longe e passei a focar mais especificamente nas percepções estereotipadas sobre as imigrantes brasileiras. A palavra “estereótipo” originalmente pertence ao vocabulário da editoração gráfica. Trata-se de uma chapa de chumbo fundido que traz em relevo a reprodução de uma página de composição e permite a tiragem de vários exemplares. A prancha estereotipada representa a fôrma que imprime fielmente o padrão da matriz. Por extensão, o estereótipo é uma opinião pronta, uma ideia ou expressão muito utilizada, banalizada, um lugar-comum ou clichê, uma espécie de carimbo que usamos para identificar uma pessoa ou um grupo social. Por isso, o carimbo acabou sendo uma metáfora perfeita para falar do estereótipo.


Publicado pelo Brasil de Fato.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

APELO AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NÃO ANISTIE OS TORTURADORES!

Para assinar o manifesto, clique em http://www.ajd.org.br/contraanistia_port.php
Entres os que subscrevem a petição estão Antonio Candido, Chico Buarque, José Celso Martinez Correa, Aloysio Nunes Ferreira, Frei Betto, Marilena Chauí, João Pedro Stedile e Sérgio Mamberti.


Exmo. Sr. Dr. Presidente do
Supremo Tribunal Federal
Ministro Gilmar Mendes


Eminentes Ministros do STF: está nas mãos dos senhores um julgamento de importância histórica para o futuro do Brasil como Estado Democrático de Direito, tendo em vista o julgamento da ADPF (Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental) nº 153, proposta em outubro de 2008 pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que requer que a Corte Suprema interprete o artigo 1º da Lei da Anistia e declare que ela não se aplica aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão contra os seus opositores políticos, durante o regime militar, pois eles não cometeram crimes políticos e nem conexos.

Tortura, assassinato e desaparecimento forçado são crimes de lesa-humanidade, portanto não podem ser objeto de anistia ou auto-anistia.

O Brasil é o único país da América Latina que ainda não julgou criminalmente os carrascos da ditadura militar e é de rigor que seja realizada a interpretação do referido artigo para que possamos instituir o primado da dignidade humana em nosso país.

A banalização da tortura é uma triste herança da ditadura civil militar que tem incidência direta na sociedade brasileira atual.

Estudos científicos e nossa observação demonstram que a impunidade desses crimes de ontem favorece a continuidade da violência atual dos agentes do Estado, que continuam praticando tortura e execuções extrajudiciais contra as populações pobres.

Afastando a incidência da anistia aos torturadores, o Supremo Tribunal Federal fará cessar a degradação social, de parte considerável da população brasileira, que não tem acesso aos direitos essenciais da democracia e nesta medida, o Brasil deixará de ser o país da América Latina que ainda aceita que a prática dos atos inumanos durante a ditadura militar possa ser beneficiada por anistia política.

Estamos certos que o Supremo Tribunal Federal dará a interpretação que fortalecerá a democracia no Brasil, pois Verdade e Justiça são imperativos éticos com os quais o Brasil tem compromissos, na ordem interna, regional e internacional.

Os Ministros do STF têm a nobre missão de fortalecer a democracia e dar aos familiares, vítimas e ao povo brasileiro a resposta necessária para a construção da paz.

Não à anistia para os torturadores, sequestradores e assassinos dos opositores à ditadura militar.


Comitê Contra a Anistia aos Torturadores



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Homens de Cor: 100% Negro, sim Senhor.

O preconceito foi contra a cor. A escravidão foi feita através da cor. Porque a reparação teria que ser diferente? A batalha contra o preconceito étnico encontra vários entraves. A primeira, perpassa a mistificação da democracia racial brasileira. Assim, a busca pela reparação da população explorada historicamente, que ainda hoje, enfrentam problemas provenientes da discriminação racial, esbarra na desculpa da miscigenação. Como indenizar um povo misturado? Simples, para explorar ninguém se importou com os diversos povos que habitavam aquele o continente Africano, apenas escravizaram usando como critério a cor, nada mais. Ninguém procurou fazer nenhum teste de DNA para descobrir se aquele povo tinha alguma característica genética européia. Então, porque agora isso seria necessário?


Desse modo “o povo negro sofreu e sofre inenarráveis danos sociais, por causa da atuação de grupos sociais que se auto consideravam onipotentes e superiores. Assim, o poder em suas múltiplas instâncias: econômicos, militares e ideológicos, foram utilizados em detrimento dos segmentos ditos “inferiores”, isto é, os negros como instrumento, a fim de, adquirir/agregar bens em prol de uma elite branca que enxergava o Brasil como um lugar das grandes oportunidades.”


A escravidão foi feita através da segregação racial, fato. Desse modo, a reparação não deve ser feita de outro modo. Como usar testes de DNA para negar esse direito ao negro? Como usar a miscigenação? Como negar esse quadro de marginalização no mercado de trabalho, no sistema educacional, político, social e cultural dos descentes dos escravos? Antes de ser um miscigenado, o negro é um descendente dos escravos libertos.


A palavra “negro” tem conotação pejorativa. O que é alguém ser a ovelha negra da família? A coisa está preta? O lado negro de alguém? A lista negra? São exemplos adotados oficialmente para designar todos os descendentes de africanos escravizados no país.


Então, por que quando uma pessoa usa uma camisa escrita 100% Negro ninguém vê problema, mas se alguém sair na rua usando uma camisa 100% Branco será considerado racista? Simples, porque a população afrodescendente é quem precisa reafirmar a sua identidade. Mostrar que a descriminação não acabou, que os negros são as principais vítimas sociais do Brasil. Apontando que, embora, o Pelourinho seja Patrimônio Histórico da Humanidade, os açoites, hoje, são morais. E que as mazelas sofridas pelos negros não acabaram com a Lei Áurea e estão se perpetuando para os seus descentes.


Foi preciso muito coragem para estampar no peito o “Sou 100% Negro”, expondo o orgulho de sua afrodescendencia. Infelizmente, “ser negro é ser diferente, foi o europeu, que instituiu isso, com a escravidão, imposta a eles.” Para reverter esse quadro de discriminação são necessárias o uso de estratégias valorativas visando quebrar com esses estereótipos depreciativos. Então: Viva as diferenças, mas com direito de oportunidade iguais.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Frase da Semana

"Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. O ódio transforma-se em tempo. O amor transforma-se em tempo. A dor transforma-se em tempo. Os assuntos que julgamos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. Mas, por si só, o tempo não é nada, a idade não é nada, a eternidade não existe."

José Luís Peixoto
Nunca teve pretensões a amar e ser amada, embora sempre nutrisse a esperança de encontrar algo que fosse como o amor, mas sem os problemas do amor.

- Gabriel Garcia Marquez in “O Amor no Tempo do Cólera”





“… deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente…”

- Caio F.Abreu



(...) Todas as vezes na vida que eu falei em absolutismos eu sabia que estava mentindo porque, pra mim, tudo sempre é imediato, porque eu não tenho a mínima paciência de não ser mimada...
Mas sempre, sempre, cinco minutos depois, tudo passa. Nunca menos e raramente mais do que isso, cinco minutos, e tudo vai embora porque é assim, as coisas têm que passar, os dias têm que mudar, os ares têm de ser novos e a vida continua, com ou sem qualquer um.

Só que esse sempre foi e ainda é o seu problema. Não ser o um que não faz falta, não ser a noite perdida num canto de um balcão qualquer, não ser o beijo de hálito gelado, tesão quente e vontade limitada. O seu problema, é ser um problema sem solução. É ser vontade pra mais de anos, é ser virtude pra uma vida inteira, é ser idealizado porque há tanto tempo eu, você e o mundo que nos cerca, separados, esperamos tanto...

Pra mim, é dificil aceitar e entender que eu tentei te deixar pra trás, como todo o resto, mas não consegui. É dificil olhar os fatos, comprovar as dificuldades, ter preguiça, sentir cansaço, doer, arder, ferver e, mesmo assim, não conseguir te colocar dentro de um prazo. Seu prazo de validade não venceu em cinco minutos...”

(Rani Ghazzaoui)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Utilidade Pública

1. Quem quiser tirar uma cópia da certidão de nascimento, ou de casamento, não precisa mais ir até um cartório, pegar senha e esperar um tempão na fila.
O cartório eletrônico, já está no ar! www.cartorio24horas.com.br
Nele você resolve essas (e outras) burocracias, 24 horas por dia, on-line. Cópias de certidões de óbitos, imóveis, e protestos também podem ser solicitados pela internet.
Para pagar é preciso imprimir um boleto bancário. Depois, o documento chega por Sedex.


2. AUXÍLIO À LISTA
Telefone 102... não! Agora é: 08002800102
Na consulta ao 102, pagamos R$ 1,20 pelo serviço. Mas existe um número para o mesmo serviço , só que gratuíto.


3. Importante: Documentos roubados - BO (boletim de occorrência) dá gratuidade - A Lei 3.051/98 que nos dá o direito de em caso de roubo ou furto (mediante a apresentação do Boletim de Ocorrência), gratuidade na emissão da 2ª via de tais documentos como:
Habilitação (R$ 42,97);
Identidade (R$ 32,65);
Licenciamento Anual de Veículo (R$ 34,11).
Para conseguir a gratuidade, basta levar uma cópia (não precisa ser autenticada) do Boletim de Ocorrência e o original ao Detra p/ Habilitaçãoe Licenciamento e outra cópia à um posto do IFP

“CARTA ABERTA” à Luiz Inácio Lula da Silva

Por Cesare Battisti


Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo. Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.


A minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.


Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!


Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.


Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabe qual outro impedimento à extradição.


Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.


E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em “GREVE DE FOME TOTAL”, com o objetivo de que me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.


Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.


Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!


Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.


Entrego minha vida nas mãos de vossa excelência e do povo brasileiro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Talvez o último desejo - Raquel de Queiroz‏

Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz, prosperidade pública e particular para todos, saúde e dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer?

Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar não posso, aquilo que representa o real desejo do meu coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana! Sim, te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos: danem-se! Danem-se que eu não ligo, vou pra longe me esquecer de tudo, vou a Pasárgada ou a qualquer outro lugar, vou-me embora, mudo de nome e paradeiro, quero ver quem é que me acha.

Isso que eu queria. Chegar junto do homem que eu amo e dizer para ele: Te dana, meu bem! Dora em vante pode fazer o que entender, pode ir, pode voltar, pode pagar dançarinas, pode fazer serenatas, rolar de borco pelas calçadas, pode jogar futebol, entrar na linha de Quimbanda, pode amar e desamar, pode tudo, que eu não ligo!

Chegar junto ao respeitável público e comunicar-lhe: Danai-vos, respeitável público. Acabou-se a adulação, não me importo mais com as vossas reações, do que gostais e do que não gostais; nutro a maior indiferença pelos vossos apupos e os vossos aplausos e sou incapaz de estirar um dedo para acariciar os vossos sentimentos. Ide baixar noutro centro, respeitável público, e não amoleis o escriba que de vós se libertou!

Chegar junto da pátria e dizer o mesmo: o doce, o suavíssimo, o libérrimo te dana. Que me importo contigo, pátria? Que cresças ou aumentes, que sofras de inundação ou de seca, que vendas café ou compres ervilhas de lata, que simules eleições ou engulas golpes? Elege quem tu quiseres, o voto é teu, o lombo é teu. Queres de novo a espora e o chicote do peão gordo que se fez teu ginete? Ou queres o manhoso mineiro ou o paulista de olho fundo? Escolhe à vontade - que me importa o comandante se o navio não é meu? A casa é tua, serve-te, pátria, que pátria não tenho mais.

Dizer te dana ao dinheiro, ao bom nome, ao respeito, à amizade e ao amor. Desprezar parentela, irmãos, tios, primos e cunhados, desprezar o sangue e os laços afins, me sentir como filho de oco de pau, sem compromissos nem afetos.

Me deitar numa rede branca armada debaixo da jaqueira, ficar balançando devagar para espantar o calor, roer castanha de caju confeitada sem receio de engordar, e ouvir na vitrolinha portátil todos os discos de Noel Rosa, com Araci e Marília Batista. Depois abrir sobre o rosto o último romance policial de Agatha Christie e dormir docemente ao mormaço.

Mas não faço. Queria tanto, mas não faço. O inquieto coração que ama e se assusta e se acha responsável pelo céu e pela terra, o insolente coração não deixa. De que serve, pois, aspirar à liberdade? O miserável coração nasceu cativo e só no cativeiro pode viver. O que ele deseja é mesmo servidão e intranqüilidade: quer reverenciar, quer ajudar, quer vigiar, quer se romper todo. Tem que espreitar os desejos do amado, e lhe fazer as quatro vontades, e atormentá-lo com cuidados e bendizer os seus caprichos; e dessa submissão e cegueira tira a sua única felicidade.

Tem que cuidar do mundo e vigiar o mundo, e gritar os seus brados de alarme que ninguém escuta e chorar com antecedência as desgraças previsíveis e carpir junto com os demais as desgraças acontecidas; não que o mundo lhe agradeça nem saiba sequer que esse estúpido coração existe. Mas essa é a outra servidão do amor em que ele se compraz - o misterioso sentimento de fraternidade que não acha nenhuma China demasiado longe, nenhum negro demasiado negro, nenhum ente demasiado estranho para o seu lado sentir e gemer e se saber seu irmão.

E tem o pai morto e a mãe viva, tão poderosos ambos, cada um na sua solidão estranha, tão longe dos nossos braços.

E tem a pátria que é coisa que ninguém explica, e tem o Ceará, valha-me Nossa Senhora, tem o velho pedaço de chão sertanejo que é meu, pois meu pai o deixou para mim como o seu pai já lho deixara e várias gerações antes de nós, passaram assim de pai a filho.

E tem a casa feita pela nossa mão, toda caiada de branco e com janelas azuis, tem os cachorros e as roseiras.

E tem o sangue que é mais grosso que a água e ata laços que ninguém desata, e não adianta pensar nem dizer que o sangue não importa, porque importa mesmo. E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros.

E tem o respeitável público que há vinte anos nos atura e lê, e em geral entende e aceita, e escreve e pede providências e colabora no que pode. E tem que se ganhar o dinheiro, e tem que se pagar imposto para possuir a terra e a casa e os bichos e as plantas; e tem que se cumprir os horários, e aceitar o trabalho, e cuidar da comida e da cama. E há que se ter medo dos soldados, e respeito pela autoridade, e paciência em dia de eleição. Há que ter coragem para continuar vivendo, tem que se pensar no dia de amanhã, embora uma coisa obscura nos diga teimosamente lá dentro que o dia de amanhã, se a gente o deixasse em paz, se cuidaria sozinho, tal como o de ontem se cuidou.

E assim, em vez da bela liberdade, da solidão e da música, a triste alma tem mesmo é que se debater nos cuidados, vigiar e amar, e acompanhar medrosa e impotente a loucura geral, o suicídio geral. E adular o público e os amigos e mentir sempre que for preciso e jamais se dedicar a si própria e aos seus desejos secretos.

Prisão de sete portas, cada uma com sete fechaduras, trancadas com sete chaves, por que lutar contra as tuas grades?

O único desabafo é descobrir o mísero coração dentro do peito, sacudi-lo um pouco e botar na boca toda a amargura do cativeiro sem remédio, antes de o apostrofar: Te dana, coração, te dana!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Etiqueta: CriAtiva

Tudo começou, a partir da idéia em comum entre algumas amigas que na falta de dinheiro para as férias, resolveram confeccionar camisas com a temática da Bahia, as camisas ficaram linda, mas pecamos no acabamento. Após, a profissionalização dessas equipe de trabalho com o conhecimento de novas técnicas de pintura, e a necessidade, novamente, daquele dinheirinho extra, pois vida de estagiário e estudante não é fácil, e além de tudo é paupérrima, nasce a idéia da criação de uma marca e o desenvolvimento de duas coleções. Assim, surge Etiqueta CriAtiva, marca de livre tendência, que terá em suas estampas os desenhos criados por Jamile Coelho. A princípio, será lançada duas coleções.


Uma coleção usará as xilogravuras como temática e abordará, o sertanejo, ressaltando as figuras presente no cordel, o regionalismo e Lampião. A outra coleção, será destinada aos quadrinhos, com a presença de Mafalda de Quino e seus questionamentos a cerca do mundo, genial. A loja on-line ainda está em construção, mas em breve, todos poderão apreciar as coleções.







segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Grand Théâtre: Pão e Circo

(Queridos colegas estudantes de jornalismo não deixem de assistir, se não tiverem a oportunidade, criem-na, mas não percam a oportunidade de assistir a essa peça).


O monólogo interpretado pela atriz Carolina Kahro, é uma crítica a televisão e ao seres humanos, enquanto expectadores. Ilustrando a sociedade de espetáculo contemporânea onde o sensacionalismo jornalístico tem especial lugar na mídia mundial, em detrimento ao seu papel por definição, o de transmitir notícias de relevância e interesse público. Assim, são ilustradas as histórias de diferentes personagens que terão em comum a vivência de uma tragédia veiculada pelos telejornais.


Mostrando os fatos e a notícia, Carolina demonstra o quanto o jornalismo é parcial, a depender do enquadramento dado, a dar notoriedade a fatos sem tanta importância, mas que sejam dramáticos, e encobrir outros de grande relevância mundial, e a tal da Agenda Sete do jornalismo.


Usando técnicas do teatro físico, Kahro, encena díspares personagens diferenciando-os apenas através de mudanças sutis, como o uso óculos com nariz como adereço, e técnicas vocais. O sincronismo entre as projeções, a encenação e o cenário, impressiona o público. A noção de tempo é uma ferramenta crucial para a apresentação, fazendo com que a atriz mais que se preocupar, com gestos, falas, tenha que ficar atenta ao tempo das projeções áudios-visuais.


Assim a história de um garoto nascido em uma favela brasileira se confunde com a história de uma garota nascida em um campo de refugiados afegãos - e juntas, as duas histórias, integram as atrações dos shows cotidianos em nossas salas de estar.”, como diz o release da peça.


Grand Théâtre: Pão e Circo” conta com a direção de Carolina Kahro Ribeiro e Vinícius Morais, roteiro de Carolina Kahro Ribeiro, trilha original de
Leonardo Bittencourt, Audiovisual de Clara Ribeiro, projeto de iluminação de Pedro Benevides e produção MANADA– confraria de criação e arte.

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Assisti a peça essa final de semana, no teatro da Cidade do Saber e recomendo a todos.

Cintia de Souza

Frase da Semana



No Capitalismo as coisas estão se humanizando
e os homens se coisificando. K. Marx




Auditório Rendido aos Talentos


Reggae, soul, pop, forró, lírico, foram alguns dos ritmos que animaram o público camaçariense nesse domingo, na final do Palco da Cidade (iniciativa da Cidade do Saber, para mostrar os talentos desconhecidos da cidade do pau que chora). A cada apresentação a descoberta de um talento, de uma história desconhecida, e sem dúvidas de um artista.


As apresentações foram expressas de maneiras diversas, seja com a simplicidade dos hippies ao dizer através de sua canção que naquele palco não há ninguém melhor que ninguém, e que todos são iguais, ou nas apresentações performáticas, onde Michael Jackson, ressuscitou em dobro para animar a platéia com sua dança, a surpresa de músicas autorais, ou ainda com a irreverência da performance do interprete ao cantar “Eu sou neguinha”, ou da poesia “Armário”, com seus jogos de palavras.


A cada apresentação, uma surpresa, e com clima de programa de auditório passaram pelo palco do teatro da Cidade do Saber interpretações com instrumentos como o violão, a guitarra e a sanfona. Os candidatos apresentaram composições de autores clássicos, mas também músicas da própria autoria, e melodias das mais desconhecidas do público, como o Soul, às mais populares, como o “Gostava tanto de você” de Tim Maia.


Cada um, ao seu modo, demonstrou ao público um pouco da diversidade de gêneros presentes nessa cidade. Todos com a mesma mensagem, de que independente dos resultados, nada anulará a certeza de que todos presentes naquele palco são artistas, e se ainda não conquistaram a fama, foi apenas por falta de oportunidade, e não de talento. Mostrando a necessidade de serem criadas políticas públicas na área cultural dirigidas para a mais diversa área de atuação artística.


Mais informações sobre o Palco da Cidade aqui.


domingo, 22 de novembro de 2009

Nada acontece nessa Cidade...

... e quando acontece é tudo de uma vez. Queridos, produtores culturais camaçarienses, ao fazer o planejamento de vocês, favor incluir a análise de ameaças e oportunidades, para verificarem coisas como: a presença de outros eventos, o público do evento, etcetera e tal.


Para não acontecer como na semana passada que três eventos aconteceram simultaneamente e disputaram um público que, no mínimo, não deveriam ser disputados. Fórum de Cultura de Juventude, Semana do Empreendedorismo e Semana da Consciência Negra, todos com uma programação imperdível, mas todos na mesma semana. Pedirei nas minhas preces, a partir de agora, um pouco de bom senso dos organizadores.



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

“Todos os dias, eu acordo com a possibilidade de ser feliz. E é assim que conduzo a minha vida. Há dias em que não logro êxito. Hoje pareceu um dia diferente. Havia a possibilidade de sempre.”

Alena Cairo

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Liberdade, Liberdade

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

(Romanceiro da Inconfidência)

Quero escrever sobre a L-I-B-E-R-D-A-D-E, mas as monstruosidades cometidas em nome da ganância, me deixa imóvel, apenas com esse nó entalado na garganta e, essa dor no peito. Mas devido a sua importância fico incumbida de substituir esse post, por um da altura da relevância do tema.



A presença do negro no contexto histórico mundial e, sobretudo, brasileiro é marcada por intensa exclusão, exploração e marginalização. Assim sendo, o povo negro sofreu e sofre inenarráveis danos sociais, por causa da atuação de grupos sociais que se auto consideravam onipotentes e superiores. Desta forma, o poder em suas múltiplas instâncias: econômicos, militares e ideológicos, foram utilizados em detrimento dos segmentos ditos “inferiores”, isto é, os negros como instrumento, a fim de, de adquirir/agregar bens em prol de uma elite branca que enxergava o Brasil como um lugar das grandes oportunidades.


De fato, os primeiros portugueses não vieram para o Brasil com finalidade de aqui habitar, mas sim com a intenção de explorar os recursos naturais de sua recém conquista terra. O escrivão Pero vaz de Caminha indica os objetivos fundamentais da colonização portuguesa:


“Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro”; a agricultura- “Águas são muitas; infinitas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”; E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”.


A carta de Pero Vaz Caminha demonstra o interesse dos Portugueses para com o Brasil. No sentido, de fazer América, isto é, acumular recursos e retornar para a Europa. Por esse motivo, a força física dos negros fora aproveitada como instrumento de trabalho através de um regime social de sujeição do homem e utilização de sua força para fins econômicos, como propriedade privada, no qual para muitos o termino deste regime escravista fora, em 13 de maio de1888, com assinação da lei áurea pela Princesa Isabel. Será mesmo?


Após serem retirados a força de seus locais de origem, os negros eram embarcados nos Navios Negreiros ou Tumbeiros. Estas embarcações recebiam este nome, porque inúmeros negros morriam dentro delas, devido às péssimas condições de viagem, servindo assim, como verdadeiras tumbas ou túmulos. De acordo, com registros da época – 15% dos negros embarcados nos navios morriam na travessia transoceânica. Nos porões dos navios abarrotados de negros, a umidade e falta de luz contribuía para a propagação de várias enfermidades. A alimentação era extremamente horrível e escassa, via de regra, composta de carne seca podre e biscoito duro. Os negros, portanto, não viajam para o Brasil a cruzeiro, mas sim por que eram obrigados pelos seus senhores.

Ao chegar à América, o escravo africano se deparava com um mundo que em tudo lhe era estranho e hostil. Com as relações familiares desfeitas antes do embarque para terras desconhecidas, marido, mulher, pais e filhos eram separados e vendidos e em muitas vezes, seguindo destinos diferentes, nada restava de sua comunidade de origem. Assim sendo, mal desembarcavam dos navios, os negros eram conduzidos ao trabalho: plantio da cana-de-açúcar, mineração e outros trabalhos manuais foram o mais comum. Já as negras, cabia fazer todo o serviço doméstico, atender às necessidades das esposas e filhos do senhor, além de satisfazer sexualmente seus donos brancos. E em troca de cerca de 20 horas de intenso trabalho, os negros recebiam comida, roupas rústicas e uma senzala para dormir.


De fato, Escravidão não rima com solidariedade e nem com inclusão. As conseqüências desta política contaminaram negativamente as relações raciais e sociais em todo Brasil e, até hoje estamos colhendo seus malefícios. Por exemplo: a Unicamp fez uma pesquisa em 1988, no centenário da escravidão, com 100 engenheiros negros e 100 engenheiros brancos empregados. O resultado: os engenheiros brancos ganham em média 28% a mais do que os engenheiros negros. A Educafro, assumindo a reflexão destes sete atos oficiais, está aprofundando com alunos, professores e coordenadores esta triste realidade e, nos desafiando a encontrar caminhos para enfrentarmos o problema, envolvendo toda sociedade, buscando pistas de soluções eficazes e eficientes.


1º ATO OFICIAL: IMPLANTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL


Através da Bula Dum Diversas, de 16 de junho de 1452 , o papa Nicolau diria ao Rei de Portugal, Afonso V: “... nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades... E REDUZIR SUAS PESSOAS À PERPÉTUA ESCRAVIDÃO, E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes...”(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.


Apoiados nesse documento, os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTAÇÃO do continente africano, matando e escravizando milhões de habitantes. A África era o único continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasão e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploração colonizadora, o continente africano ficou com as mãos e os pés amarrados e dessa forma permanece até hoje.


O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravistas. Cada ser humano, até hoje, tem uma postura política e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses. Outras posições da Igreja contra a escravidão e a favor da população negra, não foram seguidas pelo poder colonial. Exemplo: O Papa Urbano VIII, no ano de 1639, no breve “ Comissum Vobis ” afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o católico que escravizasse alguém. Esta ordem Papal não interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinação.


O papa Leão XIII, em sua Encíclica “In Plurímis ”, dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888, transmite-nos a frieza, crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores: “Do testemunho destes últimos resulta, mesmo que o número dos Africanos assim vendidos cada ano, à maneira dos rebanhos de animais, não se eleva a menos de 400.000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade, após serem cobertos de pancadas ao longo de um áspero caminho, sucumbem miseravelmente, de tal sorte que os viajantes que percorrem aquelas regiões podem quão triste é dizê-lo, reconhecer o caminho que os destroços de ossadas marcaram.”(2)


Este relato de massacre (“cerca de metade, após serem cobertos de pancadas ao longo de um áspero caminho, sucumbem miseravelmente”) que nos é transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciência histórica de defensores da justiça do Reino de Deus. Todo cristão que tem senso de justiça deve reler estes 506 anos de colonização a partir das vítimas desta catástrofe colonizadora!


2º ATO OFICIAL: LEI COMPLEMENTAR À CONSTITUIÇÃO DE 1824


“... pela legislação do império os negros não podiam freqüentar escolas, pois eram considerados doentes de moléstias contagiosas .”(3). Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensão social, econômica e política de um povo. Com este decreto, os racistas do Brasil encurralaram a população negra nos porões da sociedade. Juridicamente este decreto agiu até 1889, com a proclamação da República. Na prática a intenção do decreto funciona até hoje. Por exemplo: por que as escolas das periferias não têm, por parte do governo, o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades? Como é que uma pessoa afrodescendente favelada terá motivação para estudar numa escola de péssima qualidade?


3º ATO OFICIAL: LEI DE TERRAS DE 1850, N.º 601


Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS. Os quilombos eram formados por negros que, através de diferentes formas, conquistavam a liberdade. Aceitavam brancos pobres e índios que quisessem somar aquele projeto. Lá eles viviam uma forma alternativa de organização social, tendo tudo em comum. As sobras de produção eram vendidas aos brancos das vilas. O sistema, percebendo o crescimento do poder econômico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa mão-de-obra para sua produção, decretam a LEI DA TERRA: “... a partir desta nova lei as terras só poderiam ser obtidas através de compra. Assim, com a dificuldade de obtenção de terras que seriam vendidas por preço muito alto, o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas, substituindo os escravos ”. (4)


A partir daí o exército brasileiro passa ter como tarefa, destruir os quilombos, as plantações e levar os negros de volta as fazendas dos brancos. O exército se ocupou nesta tarefa até 25 de outubro de 1887 quando um setor solidário ao povo negro cria uma crise interna no exército e comunica ao Império que não mais admitirá que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai.(5). A lei de terras não foi usada contra os imigrantes europeus. Segundo a coleção “Biblioteca do Exército”, considerável parcela de imigrantes recebeu de graça grandes pedaços de terras, sementes e dinheiro.(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido: tirar do negro a possibilidade de crescimento econômico através do trabalho em terras próprias e embranquecer o país com a maciça entrada de europeus.(7)


4º ATO OFICIAL: GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)


Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a população negra do Brasil. Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra, ao retornar receberiam a liberdade e os já livres receberiam terra. Além do mais, quando chegava à convocação para o filho do fazendeiro, ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros. Antes da guerra do Paraguai, a população negra do Brasil era de 2.500.000 pessoas (45% do total da população brasileira). Depois da guerra, a população negra do Brasil se reduz para 1.500.000 pessoas (15% do total da população brasileira).


Durante a guerra o exército brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o número dos mortos. Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exército e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato: ““... À sombra dessa guerra, nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil dê o grito de sua divina e humanamente legítima liberdade, e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti, de negros contra brancos, que sempre tem ameaçado o Brasil e desaparece dele a escassíssima e diminuta parte branca que há! (8)


5 º ATO OFICIAL: LEI DO VENTRE LIVRE (1871)


Esta lei até hoje é ensinada nas escolas como uma lei boa: “Toda criança que nascesse a partir daquela data nasceria livre”. Na prática, esta lei separava as crianças de seus pais, desestruturando a família negra. O governo abriu uma casa para acolher estas crianças. De cada 100 crianças que lá entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade. O objetivo desta lei foi tirar a obrigação dos senhores de fazendas de criarem nossas crianças negras, pois já com 12 anos de idade as crianças saíam para os QUILOMBOS à procura da liberdade negada nas senzalas. Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil. Em quase todas as igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei.


6º ATO OFICIAL: LEI DO SEXAGENÁRIO (1885)


Também é ensinada nas escolas como sendo um prêmio do “coração bom” do senhor para o escravo que muito trabalhou. “Todo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livre”. Na verdade esta lei foi à forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando riquezas para os senhores de fazendas, surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil.


7º ATO OFICIAL: DECRETO 528 DAS IMIGRAÇÕES EUROPÉIAS (1890) - (11)


Com a subida ao poder do partido Republicano, a industrialização do país passou a ser ponto chave. A indústria precisava fundamentalmente de duas coisas: matéria prima e mão de obra. Matéria prima no Brasil não era problema. Quanto à mão de obra, o povo negro estava aí, disponível! A mão de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas indústrias, iria surgir uma classe média negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do país. A solução encontrada foi decretar, no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do país às imigrações européias e definir que negros e asiáticos só poderiam entrar no país com autorização do congresso. (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes indústrias paulistas e assim os europeus pobres são usados mais uma vez para marginalizar o povo negro.


Em síntese, percebemos ao longo de todo processo histórico brasileiro que o negro, vem sendo vítima de violência, escravidão e, sobretudo de marginalização. Assim sendo, é possível compreender melhor, o “por que” da existência de um grande contingente de negros pobres em nosso país. Toda essa pobreza criada por uma suposta elite, visa atender unicamente aos seus propósitos, pois enquanto a maioria é conduzida à perda, outros são especializados para ganhar. Afinal, para elite a desigualdade social é encarada como algo natural e trivial. Se todos virarem doutores que limpará as nossas latrinas? Este pensamente defendido pelos os liberais, assegura a disparidade social, visando desta forma, atender os interesses dos estratos privilegiados da sociedade. Cabe salientar, que esta ideologia é tão terrível que até os segmentos carentes acabam por assumi-la como dogmas em suas vidas. “Sou pobre e por isso vou morrer pobre, não adianta fazer mais nada para tentar mudar esta realidade. É assim e pronto”, embora, a proposta de cotas para negros e carentes nas universidades públicas torna-se relevante como políticas afirmativas, a fim de amenizar e superar as desigualdades vividas pelos os segmentos não-priviligiados, porém por si só não resolve toda a problemática enfrentadas pelos negros, visto que possibilita apenas o negro adentrar na universidade, mas não oferece efetivamente condições para que eles prossigam os estudos nas universidades. Portanto, é importante que seja proporcionada condições: pedagógicas e econômicas, para que estes grupos menos favorecidos possam estudar tranquilamente. No entanto, não é isto que ocorre na prática. Na verdade, há um número bastante significativo de negros que ingressam no ensino superior, porém não consegue terminar à faculdade.


Uma outra questão a ser amplamente discutida, é o que é ser negro no Brasil? No Brasil todos têm um pouco de negro correndo nas veias. Em algumas pessoas mais e outras menos, mas no geral todos têm uma ancestralidade negra, sobretudo, quando se é para obter um beneficio. Nestas condições todos auto declaram NEGROS, porém em outras condições poucos brigam por sua ancestralidade negra, porque ser negro envolve ser suspeito havendo crime ou não; ser parado na blitz policial cotidianamente; ter sua imagem associada à carência e ainda ser vítima de piadas de cunho preconceituoso e racista. Pense nisso!

Fonte(s): www.educafro.org.br


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quem foi que disse que jovem não entende de política?

O que entendem os jovens a cerca da política? Com certeza que nenhuma forma isolada de participação pode resolver os problemas sociais foi o ensinamento dado pelos jovens nesse final de semana no 4° Congresso da ABES (Associação Baiana Estudantil Secundarista) na Cidade do Saber.
As utopias que deram força as lutas dos anos 60 e 70, mudaram. Contudo, a participação dos jovens, o protagonismo e lideranças juvenis apenas crescem, mostrando que a despolitização é um mito.
Embora afirme o descrédito nos políticos, os jovens demonstram não ter perdido a fé na política ao debaterem e proporem novos rumos para a educação secundarista da Bahia. Defendendo o ensino público de qualidade, a regulamento do ensino particular, a democratização do acesso a universidade e a gestão democrática, os jovens estudantes dão um show de cidadania.
O movimento estudantil de hoje apresenta transformações ao tratar também das questões ecológica, de gênero, LGBTT, dentre outras.
Mostrando que as formas, os temas, as preocupações e os relatos são outros. Mas que, a política também pode ser feita com a irreverência, através das palavras de ordem, como: “sou estudante e luto todo dia, arrastando toda massa pras mudanças da Bahia”, e o tradicional, debates de idéias.

"Se o presente é luta, o futuro nos pertence"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Releitura: Ramones por J. Coelho

Vara Ramones em Nanquim.
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Vara Ramones traços simples.
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Vara Ramones colorida em 2D.
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Vara Ramones colorida com sombreamento.
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