segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cartum: Saldade da Bahia por J.C.


Documentário: Estamira #ficadica

Estamira se auto-define, “vocês é comum, eu não sou comum”. “Só meu formato é comum, vou explicar para vocês tudinho agora, para o mundo inteiro”. “Sou louca, sou doida, sou maluca, sou avoada. Sou as quatro coisas. Mas, porém, consciente, lúcida, e ciente, sentimentalmente” e explica que é um cometa, e que “o cometa é um comandante, um comandante natural”. Esse conjunto de adjetivos e a sua peleja, lembra um personagem da literatura, Dom Quixote de Miguel de Cervantes, ambos surpreendem com a lucidez de sua loucura.
Provoca ao afirmar que os homens estão cegos devido o uso dos “dopantes”, contesta o racionalismo de Descarte “a tua lucidez não te deixa ver” e defende o empirismo, “vocês não aprendem nada na escola, vocês copiam”, pois só se aprende “com as ocorrências”. Assim, se contrapõem a razão e argumenta “eu não sou um robô”.
Consciente ou inconscientemente defende a luta antimanicomial e, após ter vivenciado a dor de sua mãe durante o período que ficou internada em um manicômio, Estamira resiste a se tornar prisioneira, seja dos familiares ou de uma instituição. Contrapõem esse modelo padronizado de homem que deve manter o controle. Usa a metafísica de Descartes para explicar a ignorância da sociedade diante das questões levantadas pela sua louca lucidez, “vocês ainda não viram, cientista nenhum ainda viu”, “tem o eterno, tem o infinito, o absoluto, o além do além”.
No início do filme objetos e animais são retratados através do plano detalhe, que permite aos espectadores através do conjunto de imagens aparentemente desconexas, perceber a inutilidade e o descaso desses objetos.
Na cena seguinte, através da câmera subjetiva, recurso da linguagem audiovisual usado para mostrar a visão do diretor sobre o que está acontecendo, uma porta é aberta, um vulto atravessa a porta, e pode ser visualizado alguns aspectos de um barraco todos no plano detalhe. O crucifixo junto aos detritos, intriga. “Ele não está pendurado, não está cumprindo sua função simbólica, é mais um objeto destituído de utilidade imediata.” (Silva, 2010, p.p 88).
A porta é fechada por um individuo oculto e começa o acompanhamento da caminha desse sujeito pela rua, utilizando características do modo observativo durante essa cena, tentando criar a sensação que o personagem não sabe que está sendo seguido. Ainda que as imagens sejam acompanhadas por uma música instrumental, dando um tom dramático a cena (recurso não utilizado no modo observativo). Ao entrar no ônibus, começa um quebra-cabeça a partir do plano super close-up para a construção de Estamira. A placa “Gramacho, última saída”, sinaliza a falta de alternativas.
O filme possui influência estética Naturalista, a cena que mostra uma mulher morta no lixão como resto, um detrito qualquer, é um exemplo. O diretor ressalta o lado animalesco do homem ao filmar várias passagens com a presença dos urubus, animal que simboliza a morte e a putefração, o fim, aquele que vive de carniça, de dejetos, do que é podre. E a disputa do alimento com aqueles homens no lixão fossem abutres. Estamira atribui esse problema ao fato deles serem “escravo disfarçado de liberto. A Isabel soltou eles, né? E não deu emprego pros escravo. Passam fome, comem qualquer coisa, igual aos animais. Não têm educação”.
Estamira fala em “depósito de restos”, enquanto vemos três urubus que brigam pelo lixo. “Às vezes é só resto. Às vezes é descuido. Resto e descuido.” O seu discurso não se refere unicamente ao aterro, estende-se aqueles homens que sobrevivem do lixo como se eles também fossem “resto e descuido”. E que tivessem a missão de “conservar as coisas, proteger, lavar, limpar e usar mais, o quanto pode”, referindo-se a importância do papel social desempenhado pelos catadores de lixo ao reciclarem e reutilizarem os materiais descartados pela sociedade do consumo inconsciente.
Conceitos como seleção e competição natural de Charles Darwin poderia ter cenas desse documentário para ilustrá-los. Para Estamira os problemas são decorrentes de um ser onipotente, mas incompetente que cega os homens para depois abandoná-lo, como segue o trecho abaixo:
“Do trocadilo, hipócrita, safado. Canalha, indigno, incompetente. Sabe o que é que ele fez? Mentiu pros homens, soduziu os homens, cegou os homens, soduziu os homens, incentivou os homens pra depois jogar eles no abismo... êta... foi isso que ele fez, entendeu, por isso eu tou na carne, quer saber por quê? Pra desmascarar ele com a quadrilha todinha. E derrubo, e derrubo. Quer me desafiar, hem? É ruim, é. Ele é tão poderoso ao contrário, que eu, até depois da carne velhinha desse jeito, feia desse jeito, boba desse jeito, ele quer mais, aí, aí, é mole. Quer me desafiar? É ruim, é... Cê é bobo, rapaz!” (Estamira, Marcos Prado, 2004)
E encontra no marxismo a solução para essa cegueira e para a problemática social.
“Todos os homens têm que ser iguais. Têm que ser comunista. Comunismo é a ‘igualidade’. Não é obrigado todos trabalhar num serviço só. Não é obrigado todos comer uma coisa só. Mas a ‘igualidade’ é a ordenança que deu quem revelou o homem como único condicional. E o homem é o único condicional seja que cor for. Não gosto que ninguém ofende cores e nem formosura. [...] Comunismo superior.” (Estamira, Marcos Prado, 2004)
O filme alterna entre imagens coloridas e em preto e branco. Fazendo uso dessa estética dual para distinguir as temáticas, local e pessoas que agradam (colorido) e desagradam (preto/branco). Sendo doze em preto/branco (com a duração de 41´19”) e dezenove coloridas (com a duração de 1° 13´26”).
Esteticamente Marcos Prado optou pelo uso de montagem, fragmentação da ação narrativa, mudança cromática, uso do álbum de fotografias pessoais e a alternância da fotografia colorida e em P&B sem sentido evidente. Fazendo uso do plano detalhe, câmera subjetiva, plano médio, close-up e super close. Além do modo poético e observativo, fica evidente o participativo (no qual Estamira parece ter um dialogo com o diretor, ainda que em nenhum momento a voz do diretor seja ouvida). Décio Rocha pensou o áudio do filme e priorizou pela sobreposição de ruídos e trilha musical e da voz em off.


Grito de silêncio

O silêncio, algumas vezes pode ser mais expressivo que um grito. Esse mutismo que há em mim grita. Grita. Contrariando a paralisia incutida no silêncio, grita. Não existe a necessidade de usar a palavra para explicar esse silêncio que grita e resiste dentro de mim e de ti.

sábado, 28 de agosto de 2010

Ética ou etiqueta partidária?

O debate acerca da ética, as vezes restringe-se a um manual de boas maneiras. E na política onde os jogos de interesses exarcerbam-se o baile de gestos ensaiados que legitimam as relações sociais de poder sufocam valores e ideais, e até mesmo a ideologia partidária. Cada vez mais, a finura no trato ocupa o espaço que deveria ser por direito da ética. Não entenda essa afirmação como uma defesa a falta de educação ou aos maus modos, mas a defesa de valores éticos que estão acima de interesses individualistas, que respeitem o interesse da coletividade e honre o partido (partido, enquanto instância máxima da representatividade do coletivo).

Enquanto a etiqueta silencia e trata as “coisas” de formas amenas, a ética questiona e levanta desafios ao confrontar valores e interesses. Ao contrário do que se pensa, a ética não se restringe a regimentos e normas, ao mesmo tempo, está atada a valores sociais que lhe são exteriores, de forma que suas ações e palavras possam ser medidas e aceitas como válidas por aqueles que o cercam.

Defender a idéia dos bons modos, em detrimento da postura ética é tecer a cumplicidade entre o partido e a corrupção, minando assim o caminho para um novo projeto de desenvolvimento defendido pelo partido.

A exigência da luta por um partido ético, não pode ser entendida como um capricho ou briga entre dois blocos, mas sim, como a defesa do próprio Partido. Existem desafios a frente, e não se pode prosseguir sem sanar os impasses, as falhas e as deformações das contradições internas.

Embora, a ética seja o caminho, o debate interno continua a tardar, desse modo cresce a insatisfação por parte da militância. A mesma militância que defende e orgulhosamente enche a boca para afirmar fazer parte de um partido diferente dos outros, que luta para beneficiar a sociedade democrática, e não trata a política como um negócio sem limites para beneficiar um pequeno grupo.

Cada um tem a responsabilidade de assegurar ações unificadas que levem em conta o bem comum. Invés, de exposições públicas que atropelam as instâncias superiores partidárias municipais, estaduais, e consequentemente, nacional, além de romper com normas estabelecidas no estatuto partidário.

Ficam aqui, os votos para que os membros das direções partidárias sejam atores sociais e tenham discernimento para transformar essa realidade.

Cintia de Souza

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Coisas e pessoas, vem e vão

“Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar ou me espantei por perder. A sensação de transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade.” Assim, como Cecília Meireles, esse sentimento me acompanhava, mas quando se é jogado em uma selva e a luta pela sobrevivência começa a te matar e aqueles que você ama a morrer, o sentimento de perda faz-se presente.


Sempre tudo o que importava estava próximo, ao alcance de minhas mãos, de um lado o afago da família, do outro, a alegria e o companheirismo dos amigos, a simplicidade dos fatos, o cotidiano monótono, seguido de finais de semanas e períodos de férias eletrizantes, eram tudo, e para mim bastava.


Mas quando se é adulto, as coisas ao invés de ficarem mais sólidas começam a se desmanchar, assim como a desagradável sensação da fumaça de cigarro quando soprada em nossa cara. E o “ser ou não ser? Eis a questão”, de Shakespeare ganha todo o sentido e todas as certezas tornam-se incertas. E então, você pensa: “o que devo fazer?”. E essa sensação de ‘dever’ toma conta de todo o seu Eu, e a partir de agora você apenas deve. Deve fazer aquilo, deve ser assim, até ficar devendo a todo mundo.


Talvez, minha infância de menina sozinha tenha me dado esse monte de caraminholas, que me enlouquecem. Não entendo como pode alguém ter uma aparência tão serena com uma cabeça tão louca como a minha. O silêncio e a solidão, sempre me deram tempo para acostumar com as coisas. Essas duas áreas de minha vida eram meus contos de fábulas. Mas não podemos viver de fábulas, não é mesmo?


Então, jogada nesse mundo, muitas vezes não consigo estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, que caminham unidos como se fossem um, e criam toda essa minha inquietação, todo esse meu desespero e destemperamento.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Análise Fílmica: Ilha das Flores

Esse curta “que não é um filme de ficção”, como adverte ao telespectador logo no início, para que não haja enganos, diante das brincadeiras (leia-se ironia) durante a narrativa aparentemente óbvia, que inicialmente, desperta o sentimento de graça, diante de definições, como a dos seres humanos, que se distinguem dos demais animais por serem “bípedes mamíferos, com um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor” ou de Dona Anete que “é um bípede, mamífero, católico, apostólico, romano. Possui o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor. É, portanto, um ser humano.”
A obra ainda que com muitas cenas verossímeis, ao mesmo tempo segue a trajetória fictícia de um tomate: “plantado pelo senhor Suzuki,/ trocado por dinheiro com o supermercado,/ trocado pelo dinheiro que Dona Anete,/ trocou por perfumes extraídos das flores,/ recusado para o molho do porco,/ jogado no lixo,/ e recusados pelos porcos como alimento,/ está disponíveis para os seres humanos de Ilha das Flores”. Assim, passa do cômico ao trágico sem sutilezas.
Tem como locação “Belém Novo, município de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil”. Na Ilha das Flores há “poucas flores e muito lixo”. Esse foi “um dos lugares escolhidos para que o lixo cheire mal e atraia doenças”, habitada por porcos e seres humanos (que se distinguem dos outros animais por terem um polegar opositor e um telencéfalo altamente desenvolvido).
Na Ilha das Flores os alimentos que os empregados do dono dos porcos julgam inadequados para a alimentação dos suínos, servem de nutrição para muitas famílias (que embora tenham um polegar opositor e um telecéfalo altamente desenvolvido “não possuem donos ou dinheiro”). Estapeando o rosto do telespectador com essa realidade, a zoomorfização do homem.
Provoca a reflexão de ideologias muito comuns atualmente, mas que tem encaminhado a maioria dos homens para esse estado de miséria, como: a competição natural, a livre concorrência, o sacrifício humano necessário e a teoria de mútua ajuda, de Kropotkin.
A narrativa, realiza jogos com os vocábulos, usa uma linguagem direta, onde as palavras são associadas linearmente, e as sucessões de fatos acontecem enumerados, intercalando definições e o aprofundamento da descrição com a presença visual satírica dos exemplos daquilo que é descrito, com metáforas.
A construção do enredo dá a impressão de continuação do mote, ou seja, uma palavra puxa a outra, por exemplo, “os japoneses se distinguem dos demais seres humanos pelo formato dos olhos, por seus cabelos pretos e por seus nomes característicos./ O japonês em questão chama-se Suzuki./ Os seres humanos são (...) com telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor./ O telencéfalo é (...)./ O polegar opositor permite (...)/ O telencéfalo altamente desenvolvido combinando a pinça nos dedos permite (...).”
O roteiro carregado da ideologia socialista, realista com influência positivista, mostra o ser humano condicionado as suas características biológicas, como fruto do meio em que vive, demonstra influência do evolucionismo de Charles Darwin, mais especificamente da competição natural.
O ceticismo do roteirista fica explícito, ao declarar de cara, a existência de um lugar chamado Ilha das Flores e a inexistência de Deus (com a apresentação da produtora). Produzido em 1989, aborda uma problemática atual: a realidade social brasileira (que passado duas décadas não sofreu grandes transformações), o darwinismo social, os valores na sociedade do consumo e o conceito de mais valia (lucro), definida por Karl Marx e Lennin.
A mais valia é explicada através de um produto, o tomate. Esse vegetal que em 1989 era produzido sessenta e um milhão de toneladas por ano e, por isso, deveria poder suprir as necessidades alimentícias de todos. Mas, devido ao neoliberalismo, a sociedade começa a sofrer as conseqüências dos processos de acumulo de riquezas, criando abismos sociais entre as classes, e com isso a miséria e a fome, que passam os habitantes da Ilha das Flores.
A liberdade, igualdade e fraternidade, ideais da Revolução Francesa são tratados, ao citar Cecília Meireles, para complementar a definição de liberdade, estado que distinguem os seres humanos dos animais, “liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
O início do filme marca o sentimento de patriotismo, ao tocar O Guarani de Carlos Gomes, música conhecida pelos brasileiros por ser a abertura do programa de rádio mais tradicional do país.
A influência estética do modernismo, mais especificamente do dadaísmo são evidenciadas em cenas fictícias, ao Fiapo Barth (diretor de arte) optar por recortes para expressar nas cenas a narrativa, por exemplo, o telencéfalo que “permite aos seres humanos armazenar informações, relacioná-las, processá-las e entende-las”. E o uso artes renascentista, com fotografias, recortes de revistas e imagens familiares a maioria dos seres sociais. Abusando do closer, plano médio e principalmente detalhe nas cenas.
Ilha das Flores tem duração de 12 minutos, dirigido e roteirizado por Jorge Furtado e narração de Paulo José, 1989. Ganhou o Festival de Gramado, 1989: melhor curta (júri oficial, júri popular e prêmio da crítica), melhor roteiro, melhor montagem. Festival Internacional de Berlin, 1990: Urso de Prata.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carta ao Desencantado Eleitor Brasileiro

Meu caro amigo,

Escrevo-lhe esta cartinha para dizer que fiquei profundamente desesperada quando lhe perguntei os nomes de seus candidatos para a próxima eleição e você me respondeu que não iria votar em ninguém porque todos os políticos são desonestos e só querem ser eleitos para viverem na mordomia, à custa do dinheiro do povo. Eu sei, tanto quanto você, que infelizmente existem muitos políticos safados que, na época da eleição, pregam a salvação do município, do Estado ou até mesmo da Pátria, mas, depois de eleitos, usam a política partidária e os cargos públicos para a prática da corrupção.

Eu sei disso porque, como você, procuro acompanhar as ações dos nossos representantes, através da imprensa, dos boletins do Congresso Nacional e das assembléias Legislativas, das informações dos sindicatos e associações, etc. Mas sei também que existem candidatos sérios e realmente comprometidos com a melhoria das condições da vida da parcela oprimida do povo brasileiro. Precisos chamar a atenção do amigo para o seguinte: a sua atitude passiva, aparentemente neutra, na verdade beneficia os candidatos mentirosos, na medida em que sua desilusão deixa o caminho mais livre para os candidatos corruptos fazerem campanhas e serem eleitos. Na medida em que você perde a esperança em todos os políticos, e deixa de votar, os CANDIDATOS SÉRIOS – que não tenho dúvida que ainda existem, até mesmo porque eu sou séria e não tenho a insensatez de pensar ser única no mundo – perdem a chance de serem eleitos, já que eles só contam com os votos das pessoas que, como nós, LUTAM por um MUNDO MELHOR. Na medida em que eleitores interessados no combate a corrupção, às injustiças sociais e ao desrespeito aos direitos humanos, PERDEM A ESPERANÇA e DESISTEM de VOTAR, aumentam as chances de serem eleitos os candidatos que recebem financiamento das elites dominantes para comprar votos!

Meu caro amigo, você QUE É, OU QUE JÁ FOI CONSCIENTE (lembra do tempo de estudante?), não pode transforma-se em um ANALFABETO POLÍTICO (leia poema de Brecht com este título), não pode jogar fora a maior oportunidade que uma pessoas tem para exercer a sua cidadania! O seu voto constitui a única esperança de serem eleitos os candidatos que não recebem dinheiro dos ricaços avarentos e, por isso mesmo, não estão comprometidos em defender os interesses das classes dominantes. SÓ CONTAM COM O SEU VOTO OS CANDIDATOS que não se prestam a fazer o nojento papel de realizar campanhas milionárias de manipulação da opinião pública, porque encaram a POLÍTICA PARTIDÁRIA como a PROFISSÃO DOS QUE COLOCAM OS INTERESSES COLETIVOS ACIMA DOS INTERESSES INDIVIDUAIS E GRUPAIS.

Deixe-me falar uma outra coisa: fiquei muito triste e preocupada (confesso que foi por isso que decidir lhe escrever) quando você se recusou a comparar a camisa de meus candidatos, alegando que candidato tem obrigação de doar camisas, broches, etc. Fiquei estarrecida porque você aprendeu isso com os candidatos corruptos que prometem lutar pelo povão, na época de campanha, mas depois de eleitos preferem honrar o compromisso, feito às escondidas, com os burgueses que exploram a sua força de trabalho e ficam com o lucro sozinho. É com o maldito dinheiro desses ricaços impiedosos e desumanos, explorados de suor dos trabalhadores, que aqueles candidatos que doam camisas, passagens, telhas, etc. e pagam os caríssimos programas eleitorais enganadores e de baixíssimo nível. Os programas que eles exibem no horário gratuito de televisão têm nível tão baixo que constituem um verdadeiro desrespeito aos telespectadores! Se o Brasil fosse um país sério, onde os direitos humanos são respeitados, esses senhores seriam proibidos de exibir programas tão mentirosos! Desses candidatos, meu amigo, eu fujo às léguas! ESSES SENHORES, e seus amigos financiadores das campanhas políticas de baixo nível, SÃO OS MESMOS QUE APOIARAM A DITADURA MILITAR, quando esta elevava celeremente a dívida externa brasileira, impunha à população severas restrições às liberdades individuais e assassinava e torturava os nossos compatriotas que arriscavam a vida lutando por uma sociedade mais igualitária onde todos tivessem direito de comer e morar bem, de tratar da saúde, de estudar e de dispor de transportes coletivos eficientes e confortáveis, de expressar livremente os seus pensamentos, de ir a teatros, cinemas, circos, estádios, etc. de mobiliar e manter suas casas, e de andar despreocupado pelas ruas e campos sem ter medo de ser assaltado.

Quanto ao negócio da camisa, eu penso justamente ao contrário: só dou meu PRECIOSO VOTO a candidatos que precisam vender camisas e passar livros-de-ouro aos seus colegas de trabalhadores, porque estes, se eleitos, estarão comprometidos somente com os trabalhares e poderão ter coragem de REAGIR ÀS VIOLENTAS PRESSÕES dos QUE ESTÃO NUMA BOA! Mesmo sabendo que seu salário é muito pouco para as suas muitas necessidades, permita-lhe aconselhá-lo a tirar, todo mês, até as eleições, um pouquinho de dinheiro, para a campanha dos candidatos que, como nós, são pobres e não podem pagar nem o custeio dos panfletos de campanha. Se conseguirmos eleger alguns dos nossos colegas, com a união da pequena ajuda de cada um de nós, adquirimos o direito de cobrar deles o compromisso de lutar pela melhoria de nossas condições. E tem mais: Um candidato saído do movimento e das lutas dos trabalhadores, tem muito mais chances de LUTAR POR NÓS, inclusive porque já sentiram os nossos problemas na própria pela!

E para finalizar, deixe-me dizer-lhe as razões que me impedem de votar em candidatos que prometem emprego e outros tipos de favores que dependem da autorização do Poder Executivo. Entendo que os membros do Poder Legislativo tem que ser totalmente INDEPENDENTES do Poder Executivo e isso só será possível, na prática, se não precisarem pedir ao Governo para arranjar uma aguada para João, uma estrada para Maria, uma casa para José, etc. Prá mim, meu querido, DEPUTADO tem que ser UM ETERNO VIGILANTE DAS AÇÕES DO GOVERNO, COM TOTAL INDEPENDÊNCIA PARA CRITICÁ-LO DA TRIBUNA, PELA IMPRESA E DA PRAÇA PÚBLICA, TODA VEZ QUE ESTE PRATICAR ATOS CONTRÁRIOS AOS INTERESSES DO POVO E DESCUMPRIR O PROGRAMA DE CAMPANHA. Se os Governantes (Poder Executivo) não forem fiscalizados pelo povo e pelos seus representantes (os deputados, senadores e vereadores), por mais bem intencionados que sejam, poderão ser submetidos aos presentes e comissões dos empresários e banqueiros desumanos e de afastarão do povo.


Um abraço da sua amiga,


Joaquina Lacerda Leite

terça-feira, 20 de julho de 2010

ANTROPOFAGIA: Carne Humana tem Gosto de Conformismo

O mundo animal está regido pelas regras de sobrevivência, ou seja, comer para não ser comido. O canibalismo é posto pelos dominantes como única alternativa para a sobrevivência, anulando a probabilidade de existir qualquer outra perspectiva. Mas seria a humanidade e as organizações sociais imutáveis? A história mostra que não.

O darwinismo social condena ¾ da humanidade a extinção. O comer para não ser comido é uma lógica selvagem e perversa. Não defendo a crueldade e, por isso, DESEJO que TODOS comam. Que infelicidade a minha se não mais me fosse possível QUERER.

Quem poderia crer em 1500, por exemplo, que voar fosse possível? Primeiro, foi necessário que embora muitos dissessem que essa era uma tarefa impossível, alguém, quisesse alçar vôo e acreditasse nessa possibilidade.

Dos sonhos, dos quereres, é que nascem as transformações. Se todas as generalizações são burras, a idéia de que SEMPRE haverão dominantes e dominados cai por água abaixo, ou essa seria a exceção a regra? Quero acreditar que não.

Muitos já lutaram pela igualdade social. Os negros e as mulheres, por exemplo. A luta deles não foi para comerem para não serem comidos, e sim para NÃO SERMOS DEVORADORES DAS DIFERENÇAS.

Essa lógica de que as coisas, as pessoas são imutáveis me parece cega. Não consigo enxergar as coisas pela ótica de predeterminação. Se todos pensassem iguais e quisessem as mesmas coisas, talvez, aí sim, as possibilidades de mudança tivessem se esgotado. Mas esse não é o caso, pois não tenho a insensatez de pensar ser única no mundo a não desejar comer para não ser comida.

Bertold Brecht sabiamente disse, “não aceitai o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbritariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”. Comungo com esse seu conselho, com essa sua suplica.

O nosso papel enquanto ser social é o de decidir o que queremos que nos seja ofertado, e não ficarmos refém dessa relação canibálica, apenas escolhendo as regras de concessão do que pode ou não ser comido.

No passado seria impensável a idéia de mulheres com direito ao voto e ocupando o mercado de trabalho, negros trabalharem sem serem escravos ou tendo acesso a escola. Sem dúvida alguma, muitos duvidaram dessas possibilidades de mudança e nem tanto alguns séculos depois elas estão aí para nos lembrar a todos os instantes, QUE NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR.

domingo, 4 de julho de 2010

Responda-me



O presente

Até o universo conspirou ao nosso favor ao permitir o nosso encontro. Nada poderia ser mais esperado que a sua chegada. Além de precisar de ti. Necessitava que você chegasse. Acredito que de tão necessário, tornou-se destino, o meu reencontro com os livros.

Após comprar A Menina que Roubava Livros a mais de um ano e não ler. Parecia haver desistido de vivenciar o mundo dos personagens. A nossa relação estava árida e distante. Tenta levar a leitura adiante, mas os nossos caminhos não pareciam se cruzar. Nada agradava meu paladar.

Mas o destino tratou de fazer a reconciliação e agora estou lendo uns três romances aos menos tempo... É tão bom degustar livros com temperos diferentes.. Hum! Tenho me esbaldado.

Sobre o presente, os 12 livros que ganhei não foi bem presente, assinei uma rifa na UFBA por R$ 2,00 e ganhei. Mesmo assim, posso dizer que foi presente do destino.

E bastou isso para me animar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

E você quer entrar?


Mudança!


Lembra quando éramos crianças e muitas vezes surpreendidos pela chegada de um novo vizinho? Ficávamos na expectativa de quantos amigos faríamos, que brinquedos eles trariam, em que colégio estudariam... tudo isso movido pela curiosidade e desejo de novidade!
Pois bem, tenho a impressão que esse visinho trará junto com as suas bagagens um presente muito esperado por mim. Ainda que ele não saiba. Camões consegue expressar esse sentimento melhor que eu.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Igreja Católica veta reivindicações do movimento gay

Comunidade cristã tenta interferir no Plano Nacional de Direitos Humanos III para vetar direitos à homossexuais

Cíntia de Souza (cintia_utopia@hotmail.com)

O Plano Nacional de Direitos Humanos III, que tem como objetivo garantir os direitos das minorias, como crianças, deficientes, idosos, negros e homossexuais tem desagradado a Igreja Católica que em nota na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou sua “discordância, indignação ética e repudio”, principalmente aos eixos que visam garantir os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LBGT). A Igreja em nota disse repudiar “toda a lei ou doutrina que em nome dos Direitos Humanos, destrói a família, desrespeita o direito natural e impõe o pensamento de uma minoria”.

“Na democracia governa a maioria, mas – em virtude do postulado constitucional fundamental da igualdade de todos os cidadãos – ao fazê-lo não pode oprimir a minoria”, diz o Doutor Geraldo Ataliba no livro República e Constituição.

Keila Simpson, presidenta da Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros (ANTRA) questiona “como uma religião que prega o amor e a igualdade, pode pregar o preconceito e discriminação”. Lembra que a Igreja historicamente cometeu vários equívocos, como: a inquisição contra mulçumanos, judeus e pensadores; e referendou outros, como: a opressão das mulheres, a escravização de negros e índios.

Os Bispos conferencistas da CNBB que assinaram a nota justificam seu posicionamento afirmando que “diante de tantos reducionismos que consideram alguns aspectos ou dimensão do ser humano, é uma missão da Igreja anunciar uma antropologia integral”.

Contrapondo o que os Bispos consideram “antropologia integral”, os antropólogos, Laraia, Parker e Bozon em seus estudos afirmam que a cultura teria grande peso na definição de papéis sexuais. Os costumes, a família, as tradições, que levam um individuo a se comportar como homem ou mulher, e os aspectos biológicos não seria preponderante.

As Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), em nota afirmam que “o governo brasileiro deveria governar para todos os cidadãos, respeitar a laicidade do Estado e cumprir sua missão de governo, seguindo a constituição e não uma instituição religiosa”, que o Governo não deve “ajoelhar-se frente aos bispos brasileiros e dar as costas à população”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Transexualidade

Ser ou não ser? Eis a questão. Essa problemática existencial acompanha Natasha (que preferiu não revelar seu sobrenome) desde a sua infância. Como toda garota nessa fase repudiava os meninos e suas brincadeiras violentas. Essa poderia ser uma história comum, se não fosse o fato dela ter nascido homem.

Ela nasceu menino. Desde pequena, sempre teve certeza de que era uma mulher. Sentia-se estranha em um corpo de homem. De forma tímida diz que durante suas relações sexuais nunca teve ereção ou fez uso do pênis. “Sempre foi como se isso não fizesse parte de mim”, conta com tristeza. Tem a cirurgia como o único caminho para aliviar a sua angústia.

Na adolescência, o desejo de ter um corpo feminino se transformou em necessidade de auto-afirmação. Assim como a maioria das transexuais, foi expulsa de casa, abandonou a escola (devido ao bulling), não conseguiu um trabalho formal, tornou-se prostituta. No mercado de trabalho, além do preconceito pelo aspecto físico, documentos com um nome incompatível com a pessoa afastam ainda mais as oportunidades.

De todas as dores que sentia a maior delas era diante do espelho enxergar um homem. Sem condições de fazer uma cirurgia plástica, encontra no silicone industrial a possibilidade de ter um corpo feminino. Mesmo sabendo do risco de infecção, mutilação e até morte, acredita ter descoberto sua salvação na figura da bombadeira (personagem desse universo simbólico responsável pela modelagem dos corpos com a aplicação clandestina do silicone industrial). “Como posso ser uma mulher sem peito e sem bunda?”, questiona.

Disposta a fazer qualquer coisa para diminuir sua aflição, bomba o corpo com silicone industrial. Fez os seios e as nádegas. A transformação começa com o isolamento com faixas das áreas a serem modeladas. Em seguida, utiliza-se seringas de uso veterinário para injetar o silicone industrial. Começa o processo de modelagem, onde de forma rústica esfrega-se a pele para deslocar o silicone dando o formato desejado. Fecha-se os orifícios com cola tipo Super Bond. Embora, seja doloroso, a satisfação dela diante do novo corpo é nítida.

“A dor foi insuportável, pensei que fosse morrer. Mas o resultado ficou ótimo, não acha?”, pergunta. Mesmo sendo testemunha de várias histórias de amigas que morreram, tomam remédios para dor constantemente ou ficaram mutiladas, não desistiu da idéia. “Não posso viver com o sofrimento de aparentar ser quem não sou”, afirma.

Alega que é preciso muito dinheiro para uma travesti poder colocar silicone, “a maioria dos médicos não fazem o implante de silicone em homens, dizem que fere o Código de Ética” afirma.

A partir de setembro de 1997, a cirurgia para mudança de sexo e demais procedimentos deixaram de ser consideradas antiéticas e, passíveis de punição pelo Conselho de Medicina e pelo Poder Judiciário como crime de lesão corporal. Desde que seja efetuada em um hospital universitário a título de pesquisa. Mesmo assim, muitos médicos se negam a implantar silicone em homens.

Na UFBa, encontro M.B estudante de Artes da instituição vestindo calça jeans e camiseta, adverte logo que usa esses trajes apenas por convenção, mas que está se preparando para mudança de sexo, para poder se vestir como mulher. Ele é baixo, magro e, tem 20 anos. Ao falar com ele pelo telefone ninguém diria se tratar de um homem. Relata como se identificava com as meninas, e que não se encaixava no mundo masculino, nem mesmo com os gays. “Eu sou uma menina aprisionada em um corpo masculino”, afirma. E não consegue imaginar-se namorando outro homem, ambos trajando vestis masculinas, para ele, isso seria “nojento e ridículo”.

Os antropólogos, Laraia, Parker e Bozon em seus estudos afirmam que a cultura teria grande peso na definição de papéis sexuais. Os costumes, a família, as tradições, que levam um individuo a se comportar como homem ou mulher. Como disse a escritora, filósofa existencialista e feminista francesa, Simone de Beauvoir: “não se nasce mulher, torna-se”.

O transexual é alguém que se olha no espelho e não se reconhece. Nasceu com cromossomos, órgãos genitais e hormônios de um sexo, mas tem mente, as aspirações, desejos e inquietações próprias do outro.

Para Keila Simpson, presidenta da Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros - ANTRA, “travesti não é questão de vestimenta, mas sim de identidade”. Provoca ao afirmar que ao contrário do que o senso comum diz a “orientação sexual das transexuais é heterossexual, e não homossexual”, uma vez que em sua maioria buscam nos relacionamento afetivo e sexual pessoas do gênero oposto.

C.S, tem 37 anos, mora em Aracajú, fez a cirurgia de troca de sexo à três anos no Colorado, EUA. A sua história é ainda mais específica e contestará a afirmação de Keila Simpson, mostrando o quando esse mundo é múltiplo. Nasceu com o biológico masculino, trocou de sexo, e casou-se com uma mulher. Ela é uma transexual lésbica. “Nem algumas trans me entendem”, comenta.

Varaliula - O Retorno por J. Coelho

segunda-feira, 3 de maio de 2010

(NÃO LEIA, ESSE FOI APENAS UM SUSPIRO)

Estou com esse grito preso na garganta. Ele que impulsionará a minha escrita. Não estranhe o meu radicalismo temporário. Mas a minha indignação diante desse povinho inerte, preconceituoso, submisso e corrupto, não ficará contida. Por mais que minha opinião possa parecer exagerada. Esse será meu muro das lamentações. Assim como Raul, eu também vou reclamar.

Reclamarei do guarda que ao invés de empregar a lei, deixa nossas vidas em perigo ao aceitar aquela graninha extra e deixar vários veículos irregulares andando por aí. Vou reclamar de todos os desmandos governamentais cometidos em minha cidade. Vou reclamar dessas famílias que deixam que fiquem impunes o assassinato de seus filhos. Vou reclamar do transporte público, do SUS, dos colégios públicos e particulares, além claro das idiotices coletivas.