quarta-feira, 14 de maio de 2008

O ETNOCENTRISMO NA MÍDIA

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o professor Antônio Natalino Dantas, que coordenava o curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, após atribuir ao resultado insatisfatório da faculdade no teste do Ministério da Educação ao baixo nível intelectual dos baianos, e a amostra disso seria, o fato do instrumento musical mais popular na Bahia possuir uma corda e a banda percursiva, Olodum. Provou duplamente o quanto está disseminado na sociedade brasileira o etnocentrismo.

Duplamente, porque além da preconceituosa entrevista, ainda despertou a complacência de vários colunistas da revista Veja, por exemplo. Como o André Petry (O QI dos Baianos), Diogo Mainardi (Eu sou BBB- Você é BBB-), justificando a matéria de Cláudio de Moura Castro (Diamantes Descartados) que defende a criação de colégios especiais para estudantes com QI alto, todas da edição 2059, ano 41, n° 18, de 7 de maio de 2008, editora Abril.

“Há uma inferioridade dos alunos baianos em relação aos outros. A prova foi uma mostra disso”, ainda segundo o coordenador do curso, “o baiano é uma pessoa igual a qualquer outra, mas talvez tenha déficit em relação a outras populações. Não temos aquele desenvolvimento que poderíamos ter. Se comparados com os estados do Sul, vemos que a imigração japonesa, italiana e alemã foram excelentes para o país. Aqui ficamos estagnados. Afirmou também que “o berimbau é um típico instrumento para indivíduos que têm pouco neurônios. Ele tem uma corda só e não precisa de muitas combinações musicais”.

Assim, ao professor escolher justificar o resultado insatisfatório dos estudantes de medicina julgando-os estúpidos, ignorantes e imbecis por serem baianos e terem sofrido influência da cultura africana, caracteriza-se num discursos etnocêntrico e racista.

O André Petry justifica que “o professor Dantas é livre para dizer a besteira como quiser”. A liberdade de expressão confunde-se, nesse caso, com o poder dizer qualquer coisa, esquecendo-se que a liberdade está condicionada as regras e leis sociais.


Ainda segundo Petry o ex-coordenador está sendo acusado de racista por ser um baiano branco. Houve claramente, a intenção de inverter causa em efeito. Ou seja, ele não é racista, a opinião pública que o está sendo ao censura-lo.

O racismo é a teoria que defende a pretensa superioridade de certas raças humanas. Essa teoria não está restrita a uma população de determinada cor ou região, ou até mesmo do sujeito inferiorizar o grupo do Eu, por não se identificar com ele. Exemplo, posso ser negro e ser racista com negros e vice e versa.

Petry ainda afirma que o “absurdo” da recriminação da opinião pública foi “por motivos que talvez estejam sutilmente hospedados na estupidez da política de cotas raciais”, sendo os responsáveis pelo estardalhaço “a seguinte distorção: é racismo chamar de burros os alunos de uma universidade cotista instalada num estado de expressiva população negra”.

Talvez o fato de chamar os estudantes puramente de burros não se caracterizaria racismo, mas ao associar a isso o fato dos “baianos só tocarem berimbau por possuir uma corda só, pois se tivesse mais não conseguiriam”, não nega o teor racista e etnocêntrico do discurso.

Segundo Mainardi “o Brasil é ainda mais rudimentar do que Gilberto Freyre supunha. Nosso primarismo é ainda mais bestificante. Aqui só resta um Olodum mental, um dum-dum-dum mental”.

Nesse caso, não só os baianos são burros, mas todos os brasileiros. Cujo o julgamento do valor do Outro (os brasileiros) toma como base a relação entre as civilizações ocidentais, mostrando o eurocentrismo do colunista ao denegrir a imagem dos brasileiros.

Para completar temos o Mauro Castro defendendo a criação de escolas ou reserva de salas para alunos de alto QI, afirmando que deveríamos “premiar alguns poucos com uma educação compatível com o seu talento”.

Talvez essa fosse a solução para os resultados dos testes do Ministério da Educação não darem mais resultados insatisfatório, ao invés de solucionarem o sucateamento do ensino público associarem o resultado ao nível intelectual dos indivíduos de cada instituição de ensino.

Essa série de reportagem que foram retiradas de uma única edição de uma revista de grande circulação nacional, mostra o quanto, a todo momento, há um nítida auto-promoção da classe dominante que se julga superior as demais classes, e criam e reproduzem o conceito de culto e inculto, do belo e do feio, do inteligente e do burro. Ilustrando os diversos apartheid’s existentes no âmbito social, cultural e intelectual.

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