quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Aborto no Brasil – Afinal, do que se trata?

Afinal, o que é o aborto em nossa sociedade? É consenso, que o aborto é a interrupção da gravidez, que pode ocorrer mediante intervenção humana ou não. Moralmente, toda a discussão sobre negar ou conceder o direito da mulher decidir sobre o abortamento seguro transpassa pela definição de vida. Será um feto uma vida ou não? Não tenho fundamentação para negar ou afirmar isso. Mas tenho plena convicção, que uma mulher na fase reprodutiva é uma vida.
Luís Fernando Veríssimo ao ser questionado sobre o aborto, responde: “É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.”
Ao analisar os diversos discursos contra e pró a escolha de abortar, percebe-se em sua maioria os mesmos argumentos para defender ou ser contra. De um lado a defesa da vida intra-uterina, e do outro a vida materna. Salvo aqueles que defendem o aborto como medida de controle da violência. Assim, será o aborto mera vaidade feminina?
Nos fóruns das comunidades de relacionamento, é muito fácil encontrar declarações, como: “a ‘safada’ tem responsabilidade para transar e não tem para criar um filho?”, “bom, eu conheço muito homem que se ‘ferrou’ porque a lei não deixa homem nenhum dar no pé. E estão corretos os homens, se não planejou, não quer ter filho, não gosta da mulher, tem que no máximo pagar pensão e ir viver sua vida tranquilamente. O que falta é o homem conquistar o direito de viver a vida sem pagar pensão.”
E aí, é justo aplicar pra todo mundo a lei do "sivirex"? De "você provocou essa situação sozinha, eu não transo sem prevenção, então você é que tem que arcar com as conseqüências"? É aquela antiga lei, cada um por cada um e salve-se quem puder.
Já que é capricho de milhões de mulheres, utilizarem infusões tóxicas e venenosas, introduzir objetos perfurantes dentro da vagina, auto-agredirem, ingerir um monte de drogas, ir a clínicas clandestinas com péssimas condições de higiene, arriscando morrer para não terem filhos. Será apenas o fato de conceber um filho, que motiva essas mulheres a abortarem?
Houve uma declaração anônima nessas redes de relacionamento de uma menina que dizia ter 17 anos, e que ao se ver grávida, e sem ter ninguém com quem pudesse contar, no auge do desespero pegou um palito de cabelo e começou a cutucar o útero, até se ver sangrando muito. E como conseqüência perdeu o útero e quase perdia a vida.
Realmente, correr risco de morte é apenas um desejo impulsivo, súbito, sem justificação aparente. Deve ser no mínimo agradável, as dores provocadas por essas práticas inseguras para abortar. Estima-se que 20% dos casos vá parar nos hospitais em estado grave. Quanto masoquismo! Loucura imaginar que essas mulheres sentem prazer com o próprio sofrimento ou o fazem apenas por conveniência.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que, para cada três bebês nascidos vivos no Brasil, ocorre um aborto induzido. Segundo ele, uma pesquisa da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) revelou que, a cada ano, ocorre 1,4 milhão de abortos clandestinos no país.
"Se considerarmos que o aborto é um crime, todos os dias, 780 mulheres teriam que ser presas, sem contar seus médicos e, eventualmente, seus companheiros", afirmou Temporão.
Pessoalmente, considero que o aborto será, em qualquer circunstância, uma opção traumática e, a princípio, absolutamente indesejável. Ninguém vai querer engravidar apenas para poder abortar.
Em 1999, garotas de 10 a 19 anos foram responsáveis por 51.380 internações por aborto incompleto, no SUS. As jovens de 20 a 24 anos foram responsáveis por 71.439 internações. Entre 2001 e 2002, cerca de 29% de adolescentes que engravidaram, ou engravidaram suas parceiras, não tiveram o filho. (Fonte: Dossiê Adolescentes Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, Rede Feminista de Saúde, 2004. www.redesaude.org.br).
A cada dia, cerca de 140 meninas têm a gravidez interrompida. A cada hora, seis adolescentes entram em processo de aborto. A cada 17 minutos, uma jovem se torna mãe no Brasil. Aborto ou complicações no parto constituem a quinta causa de mortes entre adolescentes ou 6% do total de óbitos entre jovens. (Fonte: Agência de Notícia dos Direitos da Infância/ANDI, Ponto J, 2000).
Ah, mas e a informação? Hoje, todos têm acesso informação. Realmente, a televisão a todo momento informa – meninas, desçam no pau e sejam maravilhosas como Alzira, interpretada por Flávia Alessandra. “Ralem a checa no chão”, façam “tchan, tchan, tchan”, e no carnaval usem camisinha.
É tudo tão simples. As agências de viagem vendem o cartão postal do Brasil, as “bundas”, as meninas aprendem a dançar “daku é bom”, assistem a uma aula que sita as doenças sexualmente transmissíveis e os métodos contraceptivos. Prontinho, já sabem de tudo sobre a sexualidade.
Querem um consulta com ginecologista? Pelo menos 70% da população terá que recorrer ao SUS (Sistema Único de Saúde). No SUS é assim, você esperar para pegar senha, para autorizar, para marcar e depois para serem atendidas. Nessa espera, provavelmente você já engravidou. Tenham paciência, esse é o sistema. Ou paguem uma consulta particular que custa no mínimo R$ 100,00, recebendo o tal do salário mínimo no valor de R$ 415,00.
Relaxem e gozem, pois esse é o país do carnaval. Mulheres dêem o famoso jeitinho brasileiro e extraiam conhecimento de informação. Aprendam tudo sobre sexualidade a partir das propagandas. Não podemos esquecer da Igreja, que ensina castidade como método contraceptivo, com certeza o método mais seguro e puritano.
O discurso da Igreja é basicamente esse: Eu não já te disse que isso vai contra as leis de Deus? Então, é isso. Faça comida, educação, saúde e diversão disso. Vamos lá, façam vida santa. Pois aqueles que falam em nome de Deus, não erram nunca. Os negros e as mulheres que o digam.
Saúde, moradia, saneamento, educação, segurança e nutrição, esses são os direitos básicos, que deveriam ser garantidos pelo Estado. Está na Lei. Seja dos Direitos Universais, seja da nossa Constituição. Mas eu não tenho, moradia, comida, saneamento básico, nesse caso, quem devo processar? Alguém não deveria ter que pagar por isso? È Lei, ora essa. De quem é a culpa pela mortalidade infantil?
Com base nos dados dos indicadores sociais, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) elaborou um método de avaliar chamado de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Um indicador muito importante para a análise do IDH é a mortalidade infantil, que corresponde ao número de crianças que vão a óbito antes de atingir um ano de idade, no Brasil esse índice chega a cerca de 26,6%. Quem é o responsável, por tantas mortes?
Festejaria, se as mulheres abortassem por conveniência, conhecem o seu corpo, os métodos contraceptivos e, não tivessem impasses sociais que as obrigassem a tomar medidas drásticas. Como é dito por todos os cantos.
É aquela coisa, eu condeno o aborto por achar que falta compaixão, mas não estou nem aí para os índices de mortalidade infantil. Eu defendo a vida fetal, mas não quero nem saber se mulheres morrem devido essa técnica ser criminalizada. Eu defendo a vida intra-uterina, e negligencio a vida das mulheres que abortam quando buscam os serviços médicos deixando-as serem as ultimas a serem atendidas, para castigá-las. Cadê a defesa da vida, o amor, a compaixão, os direitos?
Vamos à caça as bruxas, como fez o grandioso juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Mato Grosso do Sul, Aloísio Pereira dos Santos ao processar 9.896 mulheres mato-grossenses por abortarem, em nome da lei.
Segundo Nilcéa Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, está em curso, no Mato Grosso do Sul, um episódio assustador e de imensa fúria persecutória contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, no Brasil.
Responsabilizemos as mulheres, como se o ser humano fosse monóico, como as minhocas e os Estado não tivesse nada a ver com isso. Vamos voltar a Idade Média e façamos as mulheres de bode expiatório.

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