terça-feira, 10 de novembro de 2009

Vegan

(Advertência: caso tenha estômago fraco não dê continuidade à sua leitura, pois a partir de agora isso será um nojeira só)

“Vegetal ruim esse que sou, não sirvo nem para alimentar aqueles que passam fome”

A sina de ser um vegetal me persegue. Ser esse ser indigno até mesmo para merecer viver. Essa certeza racha-me e caio as bandas, enquanto penso: “pena não ser um limão, uma lima ou uma laranja, até mesmo azeda ou podre”. Mas que mate a fome desse bicho-homem que não come.

Dói-me o teu olhar diante da minha ruindade. Sou pior que um pinheiro. Muito mais duro e egoísta ao não lhe servir a barriga. A cara da fome grita silenciosamente pelo teu duro olhar: - CULPADO! CULPADO!

- Mas se encho-lhe a barriga de fome morro. – a minha parcela de culpa responde com o seu dilema (comer ou ser comida?)

Fico na navalha da vida, onde com certeza serei comida, ainda que estragada e exalando esse cheiro de chorrume. A sua fome é tanta que destroça e, penso ter tido uma morte digna.

(Vegetal ruim esse que sou não sirvo sequer para empapuçar aqueles miseráveis que fome passam)

Morta com dignidade, depois excretada. Após ser cagada, engano-me pensando poder ser um vegetal melhor, mas vegetar é o meu fardo e ser cagada o meu problema.


Vítima do dualismo (Augusto dos Anjos)


Ser miserável dentre os miseráveis
— Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!


Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!


Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,


Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!

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